quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Os Contrapontos das Teorias Capitalistas e Socialistas na Educação

Joel Santana da Gama
Prof. Norberto Siegel
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
História/Licenciatura (HID 0331) – Filosofia Geral da Educação
02/08/08


RESUMO

Estes contrapontos evidenciam uma relação de sistemas de sociedade que influenciam nas teorias capitalistas e socialistas de educação, demonstrando que as relações político-sociais interferem e interferiram ao longo dos tempos no processo de ensino/aprendizagem de nossa sociedade. Assim enquanto uma sociedade prevaleceu a educação competitiva e individualista, noutro momento surgiu uma educação de apoio mutuo e cooperativo, contrapondo numa luta histórica e hegemônica, entre a burguesia e o proletariado.

Palavras-chave: Burguesia; Educação; Proletariado.


1 INTRODUÇÃO

O fim da escravidão e o declínio do feudalismo, permitiu que surgisse uma nova ordem mundial econômica, o capitalismo, que estabeleceu uma divisão da sociedade em classes, hegemonicamente em duas, a burguesia (detentora dos meios de produção) e o proletariado (que se utilizava de sua força de trabalho).

Em face, a exploração sofrida pelos trabalhadores no sistema capitalista, com a extensa jornada de trabalho, a falta de direitos por parte dos trabalhadores, aliada a uma especulação financeira da burguesia, acontece o socialismo, que convoca pela teoria de Marx e outros filósofos, os trabalhadores a se unirem pela conquista de seus direitos.

Contudo, o socialismo não conseguiu irromper com o cinismo da invenção fatalista capitalista, numa lógica de bem estar social e de prosperidade, ao qual o capital se apregoava. A reiventação capitalista tomou ao longo dos tempos diversas facetas e denominações, em alguns casos anomalias destorcidas, mas sempre oriundas dos direitos naturais do individuo (a vida, a liberdade e a prosperidade), assim adotou a imagem social-democrata, liberalista, neoliberal, fascismo... e por ultimo o anti-terrorismo.

Assim, o capitalismo já expandiu sua concepção em torno da sociedade, trazendo sua proposta individualista/especulativa em detrimento do progresso da burguesia, na esfera do “estado mínimo”. Isto obtém grandes reflexos na educação de agora e de outroras.


2 AS INFLUÊNCIAS DO CAPITALISMO NA EDUCAÇÃO

A influência do sistema capitalista no processo educacional propiciou características que se difundiram ao longo da sociedade até os dias atuais, emergindo o processo de ensino/aprendizagem numa relação de competitividade e de individualismo.

A partir dessa relação que esta educação (com tendência capitalista) estabeleceu, criou-se elementos que intensificaram esta forma de “educar”, como: o individualismo, a liberdade, a prosperidade, a igualdade, a segurança... , que trazem implícitas a relação do “estado mínimo”, que deve garantir a defesa dos direitos naturais de cada individuo e dar segurança para cada um desenvolver seus talentos e gerenciar seus negócios.

Na lógica capitalista, o individualismo é entendido, como relata assim, (CUNHA, 1980, p.28). “A sociedade civil resulta da aglutinação de indivíduos – em tese – separados no “estado da natureza” e que se reúnem para garantir a consecução de seus interesses individuais. O sucesso de cada um depende de seu talento e resulta da competição entre os membros da sociedade”.

Já a liberdade era vista de forma individual, esperando que o sucesso de cada individuo, garantisse assim o sucesso da sociedade. “A prosperidade foi compreendida no sentido amplo de cada um ser proprietário de sua vida, de seu corpo, de seu trabalho e, no sentido escrito, de seus bens e patrimônio” afirma (CUNHA, 1980, p.28).

A igualdade ou a “igualdade civil’, como era classificada, não admitia a servidão, como na idade média, nem se suportam os privilégios da nobreza, que tanto irritavam os burgueses; todos seriam iguais perante a lei e a todos seria oferecida igualdade de oportunidades”. Interessante é observar que o rico jamais perde, ao contrário, sua riqueza só aumenta. Talvez está aí a forma de igualar a distribuição da renda, diminuindo daqueles que tem demasiadamente.

Baseada numa nova concepção de justiça, centrada na valorização da lei, em detrimento do arbítrio. Essa segurança (com tendência capitalista) era fundamental para a garantia da proteção e da conservação da pessoa, dos direitos e das propriedades.

Juntamente com esse processo, podemos perceber o fortalecimento dos princípios burgueses, ao qual não se estenderam ao restante da população, privilegiando somente aqueles detentores dos meios de produção. Assim a escola, permeada por este meio social, revelou um otimismo tangendo a possibilidade da razão humana de transformar o mundo, expressos em ideais iluministas, numa supervalorização da capacidade de autonomia, do espírito de liberdade, do conhecimento racional e do individualismo.

Talvez um dos maiores exemplos dessa política hoje, em nossa sociedade sejam os exames pré-vestibulares, que estabelecem quem deve ou não ter ingresso ao ensino superior, estabelecendo e evidenciando estas possibilidades à aqueles que detêm melhores formas de aprendizado e recurso para poderem se preparar em cursos para os testes.

Assim os interesses antagônicos entre capitalistas e proletários, tornaram a educação como sempre um bem reservado a burguesia, também devido a não intervenção do estado. Esta relação condicionou posturas de uma escola tradicional ao qual postou educadores no status de detentores do conhecimento e de alunos somente no papel de aprendiz.

O liberalismo que tinha uma política baseada por uma economia de mercado, condicionou o estado a estar a serviço da classe hegemônica, a burguesia, protegendo-a por meio de uma legislação especifica, salvaguarda os interesses da nascente sociedade mercantil. Isto ratificou o pensamento que todos são “livres e proprietários” deixando a margem aqueles que apenas possuíam a força de seu trabalho, a classe proletariada.


3 O SOCIALISMO NO PROCESSO EDUCATIVO

Convocados por Karl Marx a se unirem, o proletariado, despertou para um pensamento de sociedade mais integrado ao social, reconhecendo em si, a construção da interação com o meio social e sua subjetividade.

Dessa forma, surgiram movimentos de contestação que organizaram a classe proletária a reivindicar os seus direitos perante a burguesia. Esta luta influenciou formas de pensar, como a moral, o direito, a filosofia, a ciência, a educação... , regidas pelo que Marx chamou de materialismo, classificado em infraestrutura (bens necessários à vida) e superestrutura (a ideologia). Contrapondo os interesse antagônico de classes e gerando conflitos inevitáveis.

“Assim, os valores da burguesia passam a ser considerados “universais” e não mais de determinada classe, a burguesia, podendo ser assim assimilados pelo proletariado” (CUNHA,1980, p.31). Esta ação transformadora da realidade é chamada de práxis.

Conhecer esses determinismos possibilita a ação livre do ser humano, por orientar sua ação sobre o mundo, modificando as estruturas, inclusive pela revolução [...] a mudança é o objetivo da luta de classes, conceito fundamental no marxismo, pelo qual explica a contradição de interesses e o movimento para sua superação. [...] Por isso seria ilusório pensar que podemos mudar as estruturas sociais por meio da educação, o cidadão novo só nasceria após a revolução social e política, ou seja, com a implantação de uma sociedade na qual não houvesse divisão de classes. (MARX apud CUNHA, 1980, P.31, grifo nosso).


“Ao mesmo tempo, Marx diz que, se por um lado é preciso mudar as condições sociais para se criar um novo sistema de ensino, por outro falta uma educação nova, que proporcione mudanças nas condições sociais vigentes” (CUNHA, 1980, p.30). Assim a educação deve acompanhar e formar a conscientização para que a mesma discuta os problemas e as soluções de sua sociedade, introduzindo na educação um debate até então inexistente, o das questões sociais e políticas.

Na busca de uma igualdade efetiva, o socialismo estabelece uma critica a escola individualista e competitiva que se divide e prioriza o ensino de uma determinada classe. Esta teoria se contrapõe ao ensino oferecido com o mesmo tipo de escolarização a todos, não separando o trabalho intelectual do manual. Por isso, Faz-se necessário estimular uma educação para vida, fortalecendo o instinto de cooperação entre as pessoas, o apoio mutuo e a auto-organização dos estudantes.

Hoje, um dos maiores legados da escolarização socialista implantada no mundo, se dá no baixo índice de analfabetismo, fruto de uma escola que buscou incluir uma maioria em seu processo educacional, e a capacidade de reconhecer no outro, parte de um processo histórico seu e de sua sociedade, respeitando a diversidade e o conhecimento empírico do aluno, trazido de suas experiências ocorridas de seu vivenciar.

Outro fator relevante no processo escolar socialista foi constatar que em vez de formar técnicos em determinada especialização, o importante seria, formar politécnicos para propiciar aos alunos o domínio dos fundamentos das técnicas diversificadas, utilizadas na produção, e não ao mero adestramento em determinada técnica produtiva.

Todavia, a teoria socialista na educação destacou uma ênfase no contraponto contra o individualismo e a competitividade da teoria capitalista denunciados por inúmeros críticos que exigiam a liberdade de pensamento, fato que resultou por muitas vezes na repressão do pensamento divergente, na penalização da dissidência, ocorrendo atos de intolerância, e a doutrinação a base da força em muitas sociedades.


4 CONCLUSÃO

Este contraponto evidenciou que não existe uma educação neutra, porque cada instituição escolar está comprometida com o jogo de forças do poder político-social que caracteriza cada época. Assim, ninguém se torna apolítico, pois isto caracteriza uma postura, de quem aceita os valores vigentes e ao mesmo tempo assume uma postura conservadora, isto reforça as inúmeras dificuldades de gerir uma equalização de oportunidades na educação as classes sociais.

“O advento da escola unitária significa o inicio de novas relações entre trabalho intelectual e industrial não apenas na escola, mas em toda vida social. O principio unitário, por isso, refletir-se-à em todos os organismos de cultura, transformando-os e emprestando-lhes um novo conteúdo” (GRAMSCI apud MANCUSO, 2001, p.71).

“Transformar a sociedade” disse Marx, “mudar a vida” disse Rimbaud, para mim, essas duas palavras de ordem são apenas uma. A alternativa da humanidade contra o terror, a guerra, o “horror econômico”, social e ecológico do capitalismo já foi apresentada por Rosa de Luxemburgo há muito e permanece absolutamente atual. Socialismo ou barbárie. Porque a verdade é sempre revolucionária!


5 REFERÊNCIAS

CUNHA, Luiz Antônio; Educação e Desenvolvimento Social no Brasil. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1980, p.28.

MANCUSO, Eduardo; Marxistas. Porto Alegre: Renascença, 2001, p.71

SCHMIDIT, Mario; Nova História Critica. A América Vermelha. São Paulo: Nova Geração, 2005, p.212.

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