Por Fernando Rodrigues
Historiador? Só com diploma
BRASÍLIA - Poucos notaram, mas o Senado aprovou um projeto de lei
estapafúrdio na última quarta-feira. Eis o essencial: "O exercício da
profissão de historiador, em todo o território nacional, é privativo dos
portadores de diploma de curso superior em história, expedido por
instituição regular de ensino".
Em resumo, se vier a ser aprovada pela Câmara e depois sancionada pela
presidente da República, a nova lei impedirá que pessoas sem diploma de
história possam dar aulas dessa disciplina.
A proposta é de um maniqueísmo atroz. Ignora que médicos, sociólogos,
economistas, engenheiros, juristas, jornalistas ou cidadãos sem diploma
possam acumular conhecimentos históricos sobre suas áreas de atuação.
Terão todos de guardar para si o que aprenderem.
Há sempre a esperança de alguém levantar a mão e interromper essa marcha
da insensatez na Câmara. Mas mesmo que seja abortado, o episódio não
perderá a sua gravidade. Trata-se de um alerta sobre a obsolescência e a
falta de lógica do processo legislativo brasileiro.
A ideia nasceu em 2009. Era um projeto do senador Paulo Paim, do PT
gaúcho. Em três meses, o senador Cristovam Buarque, do PDT de Brasília,
deu um parecer favorável. Ouviu um chiste de José Sarney: "Você quer me
impedir de escrever sobre a história do Maranhão".
Cristovam parece arrependido do seu protagonismo. Indica ter deixado
tudo para assessores, sem supervisioná-los como deveria. Erros
acontecem. Só que o senador defensor da educação não quis reconhecer o
equívoco na quarta-feira. Preferiu se ausentar do plenário.
O Senado tem 81 integrantes. Só dois votaram contra o diploma
obrigatório para historiadores: Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) e Pedro
Taques (PDT-MT). É muito pouco para impedir que o país se transforme,
de lambança em lambança, numa pátria das corporações.
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