sexta-feira, 19 de abril de 2013

Um Legado em Prol dos Museus

Há uma década os museus eram espaços praticamente esquecidos pelas políticas públicas culturais, identificados, muitas vezes, de uma perspectiva “elitista”, distante das comunidades. Poucos recursos eram investidos em sua infraestrutura, na manutenção de seus acervos, na elaboração de programação e estudos de pesquisa e público. Salvo raras exceções.
Após uma gestão do Antropólogo José do Nascimento Júnior, que reestruturou o Sistema Estadual de Museus no Rio Grande do Sul, entre 1999 e 2002, que criou-se a carta de Rio Grande, naquela cidade, foi elemento que trazia a reivindicação do setor museal por políticas públicas, o Antropólogo José do Nascimento Júnior, assume a Diretoria de Museus do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 2003.
A partir deste ano surge o “nascimento de um legado” que o Sr. José do Nascimento Junior em prol da museologia brasileira, ao qual constituiu uma Política Nacional de Museus, o Plano Nacional Setorial de Museus, definindo estratégias para cada uma das especificidades que compõem os museus, os Fóruns Nacionais de Museus, que estabeleceram uma integração e construção participativa do setor museal brasileiro, os editais de fomento com a ampliação em 1.000% dos investimentos na área museal, que obtinha poucos recursos para a sua efetivação de manutenção e investimento, a implantação dos pontos de memória, que ampliou o diálogo com as comunidades, a ampliação dos cursos de graduação e pós-graduação em museologia, e por conseguinte, as publicações, formação necessária para atuação em nosso setor, a aquisição de mais de 75 mil bens culturais para os museus do Ibram, fortalecendo a salvaguarda do patrimônio brasileiro, e a própria criação do Ibram, instrumento fundamental para fomentar as ações museais, e do Estatuto de Museus, lei que permite determinar um regramento sobre seu funcionamento, criando uma cidadania institucional. Apenas para citar algumas destas conquistas tão relevantes.
Hoje o Brasil é conhecido e reconhecido mundialmente por sua atuação nos museus, criando oportunidades, conceitos, indicativos e instrumentos culturais que permitem diagnosticar com bastante clareza a realidade dos museus de nosso país. O Sistema Brasileiro de Museus, através do seu conselho gestor, é o exemplo dessa construção que foi fundamental para que o Ibram chegasse e oportunizasse acesso de recursos e informações as mais longínquas casas de memórias deste país.
Neste ano, vai acontecer, ainda, a Conferência Geral do ICOM, importante debate internacional sobre a construção museal, e outros projetos e programas elaborados com o objetivo de consolidar os museus em seu papel social e estratégico para a memória, como o Plano Nacional de Educação Museal (PNEM). Assim, o Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), o qual se referendou e consolidou uma ferramenta indissociável para elaboração, formatação, difusão, preservação e pesquisa de instrumentos e políticas públicas para o setor museal.
A trajetória do Nascimento como Presidente do Ibram, teve valiosa importância para a cultura do País no que diz respeito ao setor dos Museus, ao longo dessa década o Sr. José do Nascimento Junior, empenhou esforços para que os museus tivessem uma nova atuação frente à cultura, seu mérito foi sempre primar pela construção participativa, envolvendo diversos profissionais de museus, estabelecendo diálogos e respeitando as identidades desse Brasil meridional, demonstrando que a memória é elemento de construção de direitos humanos individuais e coletivos, ratificados na experiência onde cada um elabora o seu entendimento sobre a vida, com criatividade, com arte, com história, com memória, como ponte que une o passado ao presente, projetando um futuro de uma sociedade.
Desta forma quero deixar registrada a relevância da atuação de José do Nascimento Junior, frente a esta autarquia federal, o qual cumpriu com méritos e louvor, uma importante etapa da construção museal brasileira. Um legado de trabalho e dedicação que mostra o compromisso de um país mais justo e igual para todos nós.
A preservação das nossas memórias através dos museus é a esperança de ler e reler nossos patrimônios, nossas simbologias, nossos significados, nossa sociedade, para que a imaginação sempre possa ser instrumento de tradição, contradição e principalmente de reflexão do nosso cotidiano.

Joel Santana da Gama é historiador/ Pós Graduado em Educação em Direitos Humanos e Coordenador do Sistema Estadual de Museus do Rio Grande do Sul

*Publicado originalmente no Jornal Sul 21

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