Diretor do Museu de Arte do Rio (MAR), o crítico de arte Paulo Herkenhoff virou personagem central no desfecho do protesto que aconteceu no último dia 17 de agosto contra o governador Sérgio Cabral (PMDB). Para evitar que o museu fosse invadido, assumiu a negociação entre manifestantes e Polícia Militar e recebeu voz de prisão.
Ele esperava diretores de museus estrangeiros, que estão na cidade para a Conferência Geral do Conselho Internacional de Museus, para um coquetel, quando se deparou com cerca de cem manifestantes, que exigiam falar com o governador e o prefeito Eduardo Paes, convidados da festa. Com a chegada da PM para coibir a manifestação, Herkenhoff acabou se juntando ao grupo, na defesa deles e do museu, e recebeu voz de prisão três vezes, por desacato.
"Sou do diálogo. A frente do museu não pode ser espaço de violência, tem de ser de liberdade de expressão, por isso eu quis negociar", contou ontem o diretor, que passou duas horas na entrada do museu conversando com o grupo e negociando o fim do cerco feito pela PM; com isso, acabou perdendo boa parte do coquetel. Os estrangeiros viram a confusão - segundo ele, no entanto, eles não se assustaram.
O governador e o prefeito haviam confirmado presença na festa, só que já à tarde avisaram que não iriam. Herkenhoff informou aos manifestantes que eles não estavam ali, mas houve desconfiança e eles não se dispersaram. Um índio que estava na manifestação foi levado por PMs e Herkenhoff tentou segurá-lo para que não fosse detido.
Inaugurado há cinco meses, o MAR tem a fachada toda de vidro. O medo do diretor, no entanto, não era que as vidraças fossem quebradas, mas que o museu fosse invadido e as obras de arte, atacadas. "Seria algo danoso para toda a cidade. Eu vi na invasão da Câmara dos Vereadores que as pessoas não tiveram respeito com as obras de arte. Se alguém picha, você não consegue mais convencer colecionadores de mandarem suas obras. Fiz um pacto de respeito com os manifestantes, me coloquei no meio deles, como um escudo humano."
Ditadura. Herkenhoff tem 65 anos e estudou Direito na PUC-Rio durante a ditadura militar. É de esquerda, mas nunca militou. Vem acompanhando os atos a distância. "Eu sou um cara de 65 anos de idade, não tenho força física. Mas conheço o encanto dos jovens com seu próprio heroísmo. Já fui assim."
Herkenhoff não conseguiu impedir que o índio Knaiah Água Corrente fosse levado à sede da Polícia Federal (por ser indígena), acusado de agredir um policial. Vindo da aldeia Waiwai, no Pará, para o Rio, Kaiah já morou na Aldeia Maracanã e é personagem frequente das manifestações. O rapaz de 22 anos foi liberado após o registro de um termo circunstanciado em que ele acusa o PM de agressão e é acusado de agredir o policial.
Fonte: Agência Estado
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