O Processo de Eleição Direta (PED) é sempre um momento importante de revigoramento partidário. O PED deste ano, obviamente, nos impõe novos e importantes desafios como integrantes conscientes de um partido que surgiu de baixo para cima, de entre as lutas dos movimentos populares e comprometido não só com a derrubada da ditadura, mas com transformações profundas nas estruturas do Estado e da Sociedade brasileiros. Um Partido que buscasse, pelo debate de ideias e de um Programa de Transformação para o País, elevar o grau de protagonismo do nosso povo e, pelo voto consciente, conquistar espaços nas instituições legislativas e executivas não para nelas se acomodar, mas, por dentro e por fora delas, transformá-las e reforçar ainda mais as lutas populares na busca de um Brasil justo, solidário, livre e democrático.
Neste PED o debate mais importante não é sobre o que já fizemos nos mandatos executivos e legislativos em que atuamos nestes 32 anos. É evidente que temos muito o que comemorar e, com grande parcela do povo, celebrar transformações importantes na vida de milhares de pessoas propiciadas por políticas públicas que pudemos implementar nos 3 níveis de governo, em especial nos dois mandatos do Presidente Lula e agora no mandato da Presidente Dilma.
Mas o que está em debate mesmo são as transformações que o nosso Partido sofreu durante esse período e nesse processo de atirar-se de corpo inteiro na institucionalidade por conta de governar e pela “necessidade” de conviver, dialogar e negociar (essência da política) com aliados, parceiros e acompanhantes, além do campo popular, aliançados pós eleições, na visão pragmática de governabilidade a qualquer custo.
O Partido foi diluindo os seus contornos e esmaecendo sua identidade, confundindo sua prática com a dos partidos da tradicional política do “é dando que se recebe”, do “toma lá dá cá”, do eleitoralismo e do clientelismo. O “Mensalão” é parte disso. A sobreposição de cargos e mandatos sobre as instâncias partidárias, também. Hoje não é difícil encontrar pessoas, até na base do PT, não só conformadas com isso, mas até achando que é isso mesmo: “Que bom que tenhamos aprendido a ser espertos e ganhar “deles” usando seus métodos a nosso favor”. Deveríamos estar contrariando essa cultura a cada instante da nossa atuação e prática partidária e não reforçando-a como tem acontecido.
O PT, para manter seu caráter transformador, tem de ser uma escola política aberta permanentemente, onde direções e bases, nos três níveis, sejam educandos e educadores ao mesmo tempo, caldeando-se no debate de temas e intercâmbio de experiências de luta. Aí se forjam novos quadros e lideranças. Nesse espaço franco, fraterno e democrático de construção e encontro do conhecimento com a vida, o PT pode aprender com as formas de organização e mobilização populares, estimulando a que milhares de lutadores sociais sejam protagonistas do Projeto de Transformação do Brasil que o Partido deve apoiar e ajudar a formular com as demais forças e partidos da esquerda e do socialismo democrático do nosso país. Esse debate e essa construção, radicalmente democrática, ensejará que outros setores da sociedade brasileira – sem mascarar a luta de classes que ainda não foi abolida – desejosos de transformações que o desenvolvimento espraiado e desconcentrado do nosso país carece há tanto tempo, se engajem nesse processo.
O PT será parceiro confiável nessa tarefa na medida em que afirmar sua identidade como partido do socialismo democrático e perfilar suas atitudes na resistência ao canto das sereias do “bom mocismo” neocapitalista que, tangenciando os problemas estruturais do estado brasileiro, incensa o gerenciamento competitivo da “nova forma de governar” e a criatividade na embalagem midiática dos nossos feitos para exposição nas prateleiras do “shopping” político onde tudo se compra, se vende ou se negocia.
Nossos feitos não são poucos e nos orgulhamos deles, mas devemos creditar ao protagonismo do povo brasileiro que se mobilizou para que, nas condições políticas em que governamos, ao menos isso pudéssemos ter feito. Mas é preciso ir bem mais longe. As estruturas injustas do Estado brasileiro que o fazem funcionar muito bem para muito poucos longe estão de terem sido abaladas.
Nosso papel é aprofundar o processo onde o povo se assuma cada vez mais como sujeito e não objeto da política. A política que promove o protagonismo, a cidadania plena, a solidariedade e a indignação diante das injustiças é a que produz transformações profundas e duradouras e não apenas de superfície e passageiras. Nosso Partido tem de ser um provocador permanente da rebeldia com causa e da participação que liberta as pessoas da submissão e da dependência de favores de ocasião, sejam de indivíduos ou de estruturas de poder.
No próximo período o PT deve estar “na ponta dos cascos” para enfrentar o “cavalo do comissário” que é a candidatura anunciada com fartura de ração nos haras do neoliberalismo. A peleia não será pequena para, com o povo brasileiro, reelegermos, com Dilma e Tarso, lá e aqui, o Projeto que abraçamos para transformar o país em Nação. Para isso é preciso formar a nova Direção do Partido dos Trabalhadores agora, através do PED, cuja culminância é em novembro deste ano.
Pelo dedo se conhece o gigante. Se agirmos pequenos neste PED, cometendo ou praticando vícios e condutas iguais ou parecidas com as que condenamos nas eleições gerais no país, estaremos sepultando as possibilidades de revigoramento do nosso projeto e nos descredenciando, junto à cidadania brasileira, como propositores sinceros de uma Reforma Política séria que, junto com as Reformas Agrária, Urbana e Tributária são fundamentais para consolidar a democracia e emancipar o povo brasileiro.
O PED pode e deve atiçar o fogo da cidadania petista, soprando as cinzas de sobre o brasedo e reacender a chama que acalenta e ilumina a militância petista de todas as idades. A luta não é pequena.
Por isso vale a pena! Boa luta!
Porto Alegre, 30 de agosto de 2013
Olívio Dutra – Presidente de Honra do PT/RS