terça-feira, 28 de abril de 2009

Holocausto

Nosso mundo teve e tem ainda, páginas terríveis e brutais de massacres. Mas o Holocausto dos judeus é infelizmente o paradigma e a síntese dessa monstruosidade. É terrível perceber que o funcionamento dos campos da morte nazista mostram seu parentesco próximo com a modernidade.
Como uma vasta literatura sociológica sublinha nos últimos anos: a 'modernidade' do nazismo se revela sobretudo nas suas práticas exterminadoras. Os genocídios nazistas implicam o monopólio estatal da violência. E o seu funcionamento incorpora integralmente o princípio taylorista da racionalidade produtiva, porque a morte é o resultado final de um processo racional do tratamento de uma matéria-prima (os judeus deportados) que é organizada pelo modelo de uma fábrica e da produção em série. Dito de outra maneira – e mais terrivelmente –, Auschwitz funcionava com as regras da cadeia de trabalho: a chegada dos comboios, a seleção, o confisco de bens, o desnudamento, a câmara de gás e, enfim, o forno crematório. Os campos de extermínio incorporavam assim, inevitavelmente, a racionalidade administrativa.É quase insuportável perceber essa racionalidade homicida. Mas a relação do nazismo à modernidade ocidental é essencial para compreender a gênese e a história de sua violência.
Por isso, o Holocausto e Auschwitz, em particular, aparecem como 'síntese singular' dos elementos que encontramos em nossa civilização, uma síntese que revela as raízes profundas do nazismo, sob formas patológicas ou não, mas todas mergulhadas na história, na cultura, na técnica, nas formas de organização, produção e dominação do mundo moderno.Se isso for assim, e creio que é, lembrar e reverenciar a tragédia do Holocausto, não é 'apenas' curvar-se e comover-se frente a um dos episódios mais terríveis da história humana.
É compreender que não foi único, atípico, irrepetível, inexplicável. É compreender que toda dor: o último grito, a luz do último olhar, a explosão do desespero, a perplexidade do pensamento, não se deu no passado, no planeta Auschwitz. Foi aqui nesta terra, neste mundo, nesta época. Entendendo assim, recolocamos o Holocausto no mundo, em nós, no presente eterno.
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Publicado na página 4 do jornal Correio do Povo de 21 de abril de 2009.

PS: Relato aqui a grata satisfação em conhecer este extraordinário militante histórico da esquerda socialista.

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