O município de Bento Gonçalves foi o que mais investiu em
educação em 2011 no RS, segundo o TCE. Tem espaços culturais
qualificados e políticas culturais permanentes. Graças ao prefeito
Roberto Lunelli, a educação e a cultura têm recebido muito mais recursos
do que a média das gestões municipais. Graças ao prefeito Roberto
Lunelli e à sua gestão, Bento Gonçalves tem não só o melhor IDH do
Estado – e um dos maiores PIBs, mas também um dos melhores índices de
FIB (Felicidade Interna Bruta) do país.
Isso tudo contraria a mediocridade que permeia boa parte da política
brasileira. Um vereador tucano de Bento simboliza isso: disse que o
dinheiro destinado à Feira do Livro daria para fazer “200 metros de
asfalto”. É este pensamento que faz com que, a despeito do grande
crescimento econômico da última década no país, tenhamos tanta
dificuldade em melhorar os indicadores sociais. O pensamento conservador
pensa mais no piche do que no cidadão.
A (encerrada) polêmica sobre a participação do artista Gabriel O
Pensador demonstrou, de um lado, um preconceito generalizado em relação a
cultura enquanto política pública. Por outro lado, aquilo que muito bem
a escritora Martha Medeiros sintetizou na ZH: de que está “embutido no
inconsciente coletivo” que “o escritor não precisa comer” e que “a
sociedade acha profano associar dinheiro com literatura” (essa síndrome
de São Francisco de Assis, ela lembra, acomete os próprios escritores).
O cantor Gabriel O Pensador faz de sua arte um jeito de expressar os
anseios e o cotidiano de quem não tem voz, em especial das comunidades
de periferia. As suas músicas promovem a reflexão e o pensamento
crítico. Poderia muito bem se acomodar, fazer seus shows e ganhar
dinheiro. Mas não! , virou referência em ações que estimulem,
principalmente dentre os jovens, a formação de leitores – reflexivos e
críticos, como deve ser.
Tivesse o prefeito Roberto Lunelli contratado qualquer cantor
sertanejo do momento, certamente teria pago muito mais, reunido um
grande público e não teria essa polêmica toda. No entanto, o prefeito
ousou dar maior visibilidade logo a uma feira do livro. O livro e a
leitura, sabemos bem, promovem a reflexão e a crítica, transformando a
vida das pessoas. E pessoas reflexivas e críticas não acreditam em tudo o
que leem nos jornais – e nem votam mais em quem lhes dê apenas o piche.
*Jackson Raymundo é graduado em Letras pela UFRGS e Secretário de Cultura do PT/RS.
Publicado originalmente no Jornal Sul 21
Publicado originalmente no Jornal Sul 21
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