Bahia -  Uma reportagem do programa "Brasil Urgente", da TV Band Bahia, exibida há cerca de 15 dias, causa indignação a internautas e integrantes de comissões de direitos humanos. Para entidades, houve discriminação.
A repórter Mirella Cunha entrevista um jovem negro que aparentemente acabara de ser detido por assalto e estupro. Durante a entrevista, o jovem assume que roubou, mas nega o estupro. Ao negar, a repórter provoca o jovem. “Não estuprou, mas queria estuprar”, diz.
Para mostrar que não é culpado, o jovem diz que faria um exame para provar sua inocência. Ele se confunde e diz que passaria por um exame de próstata, mas queria dizer exame de corpo de delito.
O acusado não consegue falar a palavra “próstata” e a repórter se aproveita da situação e insiste para ele repetir o nome do exame, o que o deixa constrangido. A repórter segue rindo e fala para o apresentador do programa: “Uziel, depois você não quer que o vídeo vá para o Youtube”.
Na sequencia, a repórter questiona o jovem: "Quando ela (vítima) fizer o exame de corpo o delito, vai dizer se foi você ou não?". Ele responde que após o exame, ele vai "tornar pra cadeia consciente". A repórter responde o acusando sem defesa de que ele vai como "estuprador”, mas o jovem insiste que o exame não vai acusá-lo de tal crime.
 
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Para Rafael Dias, pesquisador da ONG Justiça Global, a ação da repórter foi fruto "de uma concepção equivocada em que a jornalista pode ter acesso livre nas delegacias e fazer um julgamento midiático". Ele diz esperar que o Ministério Público e a Secretaria da Segurança do Estado se manifestem em relação à reportagem.
"Houve uma clara violação de direitos humanos de alguém que estava resguardado pela autoridade policial". Dias acrescenta que houve discriminação racial, e espera que organizações civis se manifestem na Justiça contra o tratamento dado pela jornalista ao rapaz.
A ONG Quilombo X vai entrar com ação no Ministério Público e vai defender o rapaz. "Foi ferida a dignidade dele. Ele foi vítima de preconceito. Isso ocorreu não só essa vez. É um fato que acontece dariamente", disse Hamilton Borges, coordenador da organização.
Ao final da reportagem, a jornalista percebe que o jovem não sabe do que se trata o exame de próstata e o ironiza perguntando se ele "gosta", se ele "já fez" e se ele sabe onde fica a próstata.
Para o portal Unegro (União dos Negros pela Igualdade), quando a repórter ri dele por "gostar" de fazer o exame de próstata "demonstra preconceito homofóbico" e reforça um "preconceito machista que tem dificultado a ação preventiva contra o câncer de próstata". O portal ainda acusa a reportagem de racismo e exige providências imediatas da emissora.
Um coletivo de jornalistas da Bahia escreveu carta aberta ao governo do Estado, além do Ministério Público e da Defensoria Pública, pedindo uma ação no Ministério Público, e lamentando as posturas da repórter, do apresentador e dos produtores do programa, da emissora e dos anunciantes. A carta ainda pede ao governo baiano que se manifeste " para pôr fim às arbitrariedades; e punir seus agentes que não respeitam a integridade dos presos".

No facebook, internautas chama a repórter de “torturadora”, “racista” e “preconceituosa”.
Em nota, a Band diz que “ vai tomar todas as medidas disciplinares necessárias”. “A postura da repórter fere o código de ética do jornalismo da emissora”, diz a nota. A emissora não respondeu se o editor da emissora também feriu o código de ética do jornalismo.
 
As informações são do O Dia Online e do IG