Antes de partir para um balanço do governo estadual, vale
lembrar que Tarso Genro e a Unidade Popular pelo Rio Grande elegeram-se
em 2010 com o compromisso de colocar o Rio Grande no mesmo ritmo de
crescimento do Brasil, recuperar as funções públicas do estado, buscar
financiamentos para ampliação dos investimentos, estabelecer um processo
de diálogo e participação, induzir o desenvolvimento econômico com
inclusão social, e promover o conhecimento, a cultura e a produção
gaúcha no mundo. Compromissos diante de um estado que havia crescido
apenas 25% nos últimos 10 anos e o Brasil 36%. Portanto, passados pouco
mais de 500 dias, o que temos a dizer e a mostrar aos gaúchos e gaúchas?
Apoiado em uma base política tão sólida, quanto histórica, formada
por PT, PSB, PCdoB, PPL, PDT, PTB, o governador Tarso Genro afirmou
recentemente que “conhecíamos a realidade do Rio Grande do Sul e optamos
conscientemente por não pedir tempo à sociedade no início do nosso
governo e tampouco lamentar a situação financeira do estado, o que seria
legítimo e compreensível. Preferimos dar respostas imediatas à
população e construir as condições para execução de políticas de médio e
longo prazo”. Assim, talvez o mais importante neste momento seja
compreender que vivemos um tempo de preparação da terra, tempo de uma
grande e generosa semeadura, realizada com muito diálogo. Encontramos um
terreno árido, celeiro vazio, e começamos a trabalhar. Mas como toda a
semeadura, é preciso aguardar o tempo e a melhor estação para a
colheita.
1. Com esta determinação o governo iniciou a recuperação das funções públicas e a qualificação da gestão
voltada a formação de um Estado necessário e indutor do
desenvolvimento. A estrutura existente foi reorganizada com a extinção
de seis secretarias e a criação das secretarias da Micro e Pequenas
Empresas e Economia Solidária, do Desenvolvimento Rural, Pesca e
Cooperativismo, do Desenvolvimento e Promoção do Investimento, de
Políticas Públicas para as Mulheres, o Gabinete dos Prefeitos, a Agência
Gaúcha de Desenvolvimento. No mesmo sentido, está inovando e
modernizando a gestão pública com a instituição da Sala de Gestão, para o
monitoramento dos programas estratégicos, da Sala do Investidor, que
reúne governo e empreendedores, da Comissão de Diálogo Permanente
(Codipe) com os servidores, e da reorganização do sistema financeiro
estadual, com o Banrisul, BRDE e o novo Badesul.
2. Com a retomada do diálogo com os servidores públicos
o governo deu início, ainda em 2011, ao processo de recuperação
salarial e recomposição do quadro funcional, com destaque para as áreas
de saúde (9% e 12%), segurança pública (23% para soldados) e educação
(76% até 2014 e mais de 30 mil professores beneficiados com o pagamento
do valor diferencial para o Piso do magistério). Neste momento uma série
de nomeações e concursos estão em andamento para as secretarias de
educação, segurança, agricultura, desenvolvimento, Susepe, Fepam,
Fepagro, Uergs, DAER, Emater, Corsan, entre outros, chegando a mais de
15 mil novos servidores.
3. Os recursos captados junto ao Banco Mundial e BNDES, a negociação
da dívida da União com a CEEE, a cobrança da dívida ativa, a
capitalização do Banrisul, as linhas de financiamento do Badesul e o
novo espaço fiscal do estado, definido pela presidente Dilma, estão
garantindo o financiamento para a ampliação do investimento.
Estes recursos, conjuntamente com as verbas destinadas pelos programas
do governo federal e captadas pelo governo estadual, ultrapassam os R$
10 bilhões, não contabilizado aqui a captação de investimentos privados
que somam outros R$ 10 bilhões apenas em 2011.
4. A realização das plenárias regionais e municipais do OP, durante
maio deste ano, permite afirmar que as principais ferramentas do Sistema Estadual de Participação Popular e Cidadã
– OP, CDES e Gabinete Digital – estão organizadas e em funcionamento,
tendo inclusive integrado e ampliado outras formas de participação, como
o Gabinete dos Prefeitos, a Interiorização do Governo, os Encontros
para o Desenvolvimento, os Diálogos CDES-RS, ou mesmo, os Coredes, as
conferências estaduais, os conselhos setoriais e a Consulta Popular.
Este fato é, por si só, histórico e, porque não dizer, único na
radicalização da gestão democrática do Estado.
5. Em relação à política econômica, uma série expressiva de medidas
foi tomada, todas direcionadas à indução do crescimento econômico para
um novo círculo virtuoso de desenvolvimento, com a
valorização da cadeia produtiva instalada. Políticas como o Plano Safra
Gaúcho (R$ 1,1 bi em créditos), a retomada do Simples Gaúcho (R$ 100
milhões de renúncia), o Programa de Microcrédito (mais de R$ 25 milhões
em empréstimos), Novo Fundopem, Programa RS Tecnópole (R$ 140 milhões),
Programa Estadual de Política Industrial, Programa de Fomento a Economia
da Cooperação, Programa de Fortalecimento dos Arranjos Produtivos
Locais, o Pró-Inovação (incentivo fiscal à inovação tecnológica),
Programa de Irrigação Mais Água-Mais Renda (R$ 1,2 bi para
financiamento, açudes e equipamentos), Programa Fornecer de compras
públicas de micro e pequenas empresas (R$ 6 milhões para 80 municípios),
Programa de Correção do Solo (calcário), Programa Gaúcho do Gás
Natural, Petróleo e Indústria Naval, Programa Estadual do Turismo e o
Programa de Subvenção de Juros.
6. Os programas de Saneamento com R$ 2,8 bilhões (recursos dos
governos estadual e federal), infraestrutura energética com R$ 1,7
bilhões, Plano de Obras Rodoviárias com R$ 2,6 bi (manutenção e
construção de estradas, além de todos os acessos municipais), quatro
presídios com 2300 novas vagas e investimento de R$ 49 milhões, Programa
de reforma das escolas estaduais (fim das escolas de lata) com R$ 182
milhões, ampliação dos recursos de saúde em quase R$ 800 milhões em dois
anos, somam R$ 7,9 bilhões em infraestrutura e qualificação dos serviços públicos.
As obras do Cais Mauá, do metrô de Porto Alegre e da segunda ponte do
Guaíba, tratadas e negociadas pelo governo do estado, em parceira com os
entes federados e o setor privado, representarão mais R$ 3,3 bi em
investimentos.
7. A inclusão social, através de políticas de
distribuição de renda, cumpre função estratégica para o desenvolvimento e
foi uma das âncoras fundamentais, juntamente com o apoio aos setores
produtivos, para o novo ciclo de crescimento econômico vivido pelo
Brasil. Em outro sentido, erradicar a extrema pobreza no estado não é
apenas um compromisso programático, deve ser também um compromisso moral
de toda a sociedade gaúcha. Mais de 300 mil gaúchos vivem hoje nesta
situação. Diante desta realidade, o estado aderiu ao Programa Brasil Sem
Miséria do governo federal e lançou o Programa RS Mais Igual, que
pretende beneficiar 90 mil famílias até 2014 com uma renda complementar
de R$ 50 mensais para capacitação ao mercado de trabalho. Entre as ações
de distribuição de renda destaca-se a valorização do Piso Regional
(14,7% de reajuste em 2012 passando para 700 reais), o Pacto Gaúcho pela
Educação (63 mil vagas de cursos de capacitação e o Prouni RS), a
política de Enfrentamento à Estiagem e à Pobreza no Campo, que já
destinou mais de R$ 60 milhões, a anistia das dívidas de 58 mil pequenos
agricultores e as Casas da Solidariedade (abrigo para pacientes e
familiares em tratamento de saúde).
8. Desde a transição, no final de 2010, o Governo Tarso vem trabalhando por um Rio Grande do Sul conectado com o mundo.
Em novembro daquele ano foi em missão para Espanha e Portugal e de lá
voltou com uma linha aérea da TAP Lisboa-Porto Alegre. A ousadia de
pensar o Rio Grande para além de seu território possibilitou estabelecer
uma integração econômica, educacional, cultural e política com Uruguai,
Coréia do Sul, Cuba, Inglaterra, Espanha, Portugal e Alemanha.
Conquistamos investimentos importantes como a fabrica da Hyundai (R$ 60
milhões), de caminhões chinesa Shiyan (R$ 185 milhões), e a parceria
entre governo, Petrobrás e Samsung para estudo de viabilidade da
instalação de um terminal de regaseificação e uma fábrica de
fertilizantes com potencial de 5 bilhões de dólares.
9. Quebrando um paradigma histórico, de oposição ao “governo central”, hoje o estado está de frente para o Brasil
e estabelece com o governo federal e a presidenta Dilma uma nova
dinâmica de parceria e cooperação que permitiu resolver temas como o
metrô, a segunda ponte do Guaíba, a dívida com a CEEE, a duplicação da
BR 116, o Cais Mauá, o terreno de Guaíba, além de recursos superiores a
R$ 2 bilhões destinados por diversos ministérios para C&T, educação,
saneamento, agricultura familiar, cultura (Sala Sinfônica da Ospa),
habitação e segurança, por exemplo.
10. Os indicadores econômicos da Fundação de Economia e Estatística
confirmam o novo momento que o estado começa a viver. Enquanto o Brasil
teve crescimento do PIB de 3% em 2011, o Rio Grande registrou 5,7%. No
mesmo período a indústria, o comércio e a construção civil registraram
crescimento acima da média nacional, com destaque para o setor
agropecuário que cresceu 18%, muito acima dos 2,9% do país, e o
desemprego que ficou em 7,3%, abaixo da média nacional de 10,5%. Em
2012, a crise européia e a estiagem nos desafiam a manter estes
indicadores.
Usualmente um texto de balanço procura descrever o conjunto de ações e programas realizados, mas cabe uma nota sobre o que não foi feito,
que é revelador do caráter político-programático de um governo: não
demitir servidores, não criminalizar sindicatos e movimentos sociais,
não arrochar salários, não vender patrimônio público, não retirar
direitos, não prorrogar as atuais concessões de pedágios.
No mesmo período, acompanhamos com atenção e preocupação a crise
econômica que atinge a Europa e o EUA. Mas diferentemente do acontece em
países como a Grécia, Portugal e Espanha, que buscam sair da crise
ampliando os remédios econômicos neoliberais que os levaram a atual
situação (redução de investimentos, corte de direitos trabalhistas e
sociais, restrição aos processos democráticos), nestes pouco mais de 500
dias, no Brasil e no Rio Grande, estamos trilhando outro caminho. Fazer
o que estamos fazendo, no tempo em que estamos fazendo, ganha um valor
político e social ainda maior.
Por fim, gostaria de destacar que não se trata, neste texto, de uma
tentativa de demonstrar que tudo esta sendo realizado. Ao contrário:
temos plena consciência das enormes questões que nos desafiam:
cumprimento da EC-29 da saúde, o Piso Nacional dos Professores, a
previdência pública, a dívida com a União, as obras de infraestrutura,
os novos modelos de pedagiamento, a reestruturação econômico-financeira,
a qualificação da saúde, segurança, educação, a elevação da capacidade
de investimento próprio, a estiagem e seus efeitos, a reforma e
construção de presídios, entre tantos outros temas de alta relevância e
interesse público.
Mas assim como aconteceu no Brasil, aqui o povo gaúcho também decidiu
por um caminho solidário de crescimento com justiça, inclusão e
sustentabilidade. Estamos caminhando e construindo um novo caminho. Por
tudo isto é que podemos dizer que no Rio Grande são outros 500.
Marcelo Danéris
Secretário Executivo do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Rio Grande do Sul (CDES RS)
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